A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia irá contratar uma equipe fixa para realização de reparos e reformas nas unidades de atendimento da capital. A decisão de centralizar este tipo de serviço se dá após estudo técnico da pasta constatar problemas estruturais generalizados. As ações emergenciais nos locais em pior situação, porém, deverão ser executadas no próximo mês.
Segundo a SMS, todo o processo para o início dos trabalhos pela empresa, em regime de plantão de 24 horas em todos os dias da semana, deve ficar pronto até o início do ano que vem. Em detalhamento, a secretaria informou que o contrato será firmado após consulta de concorrência de menor preço.
Um relatório feito pela equipe de engenheiros e arquitetos da SMS nos últimos meses reconhece a obsolescência de equipamentos e deterioração de prédios. A conclusão é a mesma feita pela Comissão de Saúde e Assistência Social da Câmara Municipal em relatório apresentado no mês passado. Em relatos e fotografias, o cenário documentado inclui pisos esburacados, problemas em fiações elétricas, infiltrações e mofo.
Com mais de 140 unidades de saúde, levando em consideração os diversos tipos de atenção, a manutenção tem se mostrado um desafio além da capacidade da gestão da rede. De acordo com o titular da SMS, Durval Pedroso, o problema se deve, principalmente, à falta de equipe para manutenção preventiva e corretiva, questão considerada “séria” pelo gestor.
“Temos unidades que realmente estão com estruturas muito ruins, que oferecem até risco em determinadas situações e isso não pode acontecer”, diz Pedroso.
No relatório feito pela Comissão de Saúde da Câmara, os vereadores encontraram inconformidade estrutural em todas as 24 unidades visitadas. “O que foi percebido é que realmente a manutenção está muito aquém. Para se ter uma ideia, está demorando mais de 60 dias para fazer uma limpeza em aparelho de ar-condicionado”, relata o presidente da comissão, vereador Mauro Rubem (PT).
Diagnósticos
O laudo feito pela secretaria avaliou as estruturas de 13 unidades que funcionam 24 horas, constatando que quatro precisam de ações emergenciais. Os nomes dessas unidades não foram informados pela SMS, mas, segundo Pedroso, elas receberão reparos a partir de novembro por meio de contratação de empresa por adesão à tabela de preços.
As demais serão atendidas de acordo com um plano de adequação com cronograma que se estende até 2024. Enquanto prevê a construção de 12 novas unidades e a reconstrução de outras 24 até o final do mandato do prefeito Rogério Cruz (Republicanos), a contratação da empresa de manutenção deve evitar o acúmulo de problemas simples que, segundo a SMS, resultam em problemas expressivos.
“A impressão que nós temos é que existe uma degradação em razão de manutenção inadequada ou ausência de manutenção. Se você construir um prédio e não pintá-lo de seis em seis meses, ficar dois anos sem manutenção, aquilo vai ter uma degradação muito maior, mais cara, mais complexa. É um barato que acaba saindo caro em todos os sentidos”, diz Pedroso.
A presidente do Conselho Municipal de Saúde de Goiânia (CMS), Celidalva Bittencourt, avalia que a terceirização pode colaborar para solucionar os problemas estruturais da rede. “Sabemos que a SMS não conta com número de trabalhadores suficiente para manutenção. Se a solução for contratar uma empresa, eu sou favorável”, diz.
Dia a dia
Atuando diuturnamente nas unidades, servidores em locais com estruturas precárias dizem que sensação é de que centros de saúde foram esquecidos. Em visita do POPULAR em três locais, equipes relataram que os improvisos fazem parte da rotina para garantir atendimento.
No Centro de Saúde Norte Ferroviário os problemas são observados desde a fachada até o atendimento nos consultórios. Liliamar Oliveira de Jesus, de 50 anos, é vizinha da unidade e diz que tem memórias de ser atendida no local desde a infância. “O atendimento é muito bom, mas falta uma reforma. No início do ano tinha uma parte do teto caindo”, relata Liliamar.
O problema citado pela usuária da rede pública foi solucionado em reforma recente. Outras questões, porém, seguem sem atenção. Falta acessibilidade, os consultórios são separados por placas de madeira e a pintura degradada expõe a ação de infiltrações por todos os lados, consumindo várias paredes.
A vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde de Goiás (Sindsaúde-GO), Néia Vieira, diz que é constante o fluxo de denúncias feitas por servidores sobre más condições de trabalho. “Instalações elétricas à mostra, infiltrações, mofo, macas enferrujadas. Itens que colocam a segurança de funcionários e pacientes em risco”, descreve.
Apesar de a SMS destacar os últimos feitos, como a entrega de reformas de unidades, Neia diz que mesmo aquelas reformadas ainda apresentam problemas. É o caso da recém-inaugurada UPA Chácara do Governador. Para a reportagem, um servidor que preferiu não se identificar diz que o prédio apresenta ainda mais problemas que antes da reforma. “Além do mau-cheiro próximo de ralos por conta do esgoto, a gente já vê paredes com indícios de infiltração.”
Em outra região da cidade, na Unidade de Saúde da Família do Vera Cruz II, o relato é de mofo, calor e falta de ventilação. Em fotografias, os servidores registram a evolução de rachaduras. “A promessa é de reforma já tem muito tempo. Os políticos só visitam aqui na época de eleição e depois somem”, diz uma enfermeira.
Imóveis alugados são problema
Outro problema constatado de forma unânime entre a SMS, vereadores e servidores é a pior situação de unidades que funcionam em locais alugados. “Você não pode fazer reformas em unidades alugadas. O que você tem que fazer é exigir do proprietário as adequações”, explica o secretário Durval Pedroso.
A presidente do Conselho Municipal de Saúde diz que a solução é simples. “Aluga outro imóvel até ter sede própria”, diz Celidalva Bittencourt. Segundo a representante, o CMS está acompanhando a situação estrutural dos locais de atendimento com “imensa preocupação”, mas destaca que, na sua avaliação, o problema é histórico. “Não podemos esconder o sol com a peneira”, diz ao considerar que parte dos problemas observados sempre existiu.
Sobre a necessidade de substituir unidades alugadas por sede própria, Pedroso destaca que o plano de adequações das estruturas da rede inclui a medida.
Apesar de não discordar da contratação de uma empresa para realização das manutenções prediais, o vereador Mauro Rubem diz que mais efetivo seria a descentralização de recursos. “O gestor da unidade poderia ter autonomia para comprar a torneira danificada, por exemplo”, defende o parlamentar.
Pedroso diz que a descentralização se mostra complicada e que os reparos demandam critérios técnicos. “Os gestores já têm muitos problemas no dia a dia. Acredito que da forma que estamos propondo é uma boa solução”, sustenta Pedroso.