Nesta quinta-feira (15) quando assinar um termo de cooperação técnica com a Universidade Evangélica de Goiás (UniEvangélica), a Associação Goiana de Apoio e Pesquisa à Cannabis Medicinal (Agape) dará um passo importante dentro da luta pelo direito de plantio da cannabis para fins terapêuticos e científicos que assumiu desde 2017. A partir do acordo, os pacientes acompanhados pela entidade serão alvo de pesquisas clínicas por parte da instituição universitária que, num futuro próximo, pretende ampliar estudos in vitro capazes de identificar outros potenciais da planta.
Fundador e diretor geral da Ágape, o advogado Yuri Tejota comemora. “A maioria das entidades que defende o uso da cannabis terapêutica tem uma visão apaixonada do tema, mas esta pauta precisa avançar e isso só é possível com a parceria de universidades, sejam elas públicas ou privadas. Acreditamos nesta planta e o melhor lugar para ela é dentro da universidade, nas mãos de pesquisadores.” Com o termo de cooperação técnica, acredita Yuri Tejota, a UniEvangélica se torna protagonista, ao lado de instituições de todo o mundo, no processo de pesquisa científica sobre a cannabis.
Atualmente, 140 pacientes são credenciados junto à Ágape. Eles recebem assistência médica, farmacêutica, psicológica e jurídica necessárias para um tratamento seguro e eficaz. A partir de agora eles serão monitorados pela UniEvangélica em seus diversos laboratórios e espaços de saúde. A Ágape também irá contribuir com o plano de ação para estudos de pós-graduação nas áreas de ciências farmacêuticas, movimento humano e reabilitação e ciências ambientais.
“Este termo de cooperação pode ser transformador. Estamos muito otimistas”, afirma o professor doutor Sandro Dutra e Silva, pró-reitor de Pós-graduação, Pesquisa, Extensão e Ação Comunitária da UniEvangélica. Ele explica que os primeiros estudos vão envolver a pesquisa clínica com os pacientes, mas ao longo do tempo certamente será criado um ecossistema de inovação tecnológica de saúde e terapêutica tendo a cannabis como foco. “E a Agape precisa disso para chancelar a ação de seus profissionais.”
Embora a planta da cannabis tenha mais de cem componentes, os canabinóides, a pesquisa com os pacientes na UniEvangélica envolverá a análise dos resultados de dois extratos, o canabidiol (CDB) e o tetrahidrocanabinol (THC), utilizados para tratamentos de neuropatologias, como convulsões, depressão, Mal de Alzheimer, Mal de Parkinson e diversas condições de saúde que prejudicam o sistema nervoso. Ambos agem no organismo por meio do sistema endocanabinoide que é composto por neurotransmissores capazes de regular algumas funções como memória, apetite, sono e dor.
Pontapé inicial
Sandro Dutra lembra que “o conhecimento é importante para transformar a realidade”. Nessa premissa, ressalta que a UniEvangélica está ao lado do segundo maior polo farmoquímico da América Latina, com diversos de seus atores se especializando na instituição. “Sabemos que esse termo de cooperação é apenas um pontapé inicial e já estamos trabalhando com a possibilidade de trazer as indústrias farmacêuticas para este debate. Em muitos países, como Israel, há uma série de produtos derivados de canabidiol no mercado. Quem sabe logo estaremos produzindo isso aqui.”
Yuri Tejota concorda. “O que mais nos chateia é sermos enxergados como uma colônia. No cenário mundial da cannabis terapêutica, ou da cannabis em si, ela é um commodity na construção civil, na indústria têxtil, etc. Lá fora estão gerando empregos, pesquisas, patentes, evoluções econômicas e mercadológicas e nós estamos aqui falando de CBD. É muito duro.” O próprio Sandro Dutra, que é um historiador ambiental, foi convidado pela Ágape para mergulhar na história da planta e o processo da ciência em relação a ela. “Há registros de muitos usos, mas ela ficou estigmatizada. Isso precisa ser rompido”, afirma o pró-reitor.