GABRIELLA BRAGA
Usuários do transporte coletivo de Aparecida de Goiânia precisam aguardar sob sol e chuva após a remoção de 22 abrigos. Eram estruturas de concreto precárias e que ofereciam risco. A retirada dos pontos teve início há 30 dias, de forma emergencial, e até o momento não há previsão de quando outros serão instalados nos locais. Há outras quatro coberturas interditadas para remoção.
A medida foi tomada pela prefeitura de Aparecida após a morte do ajudante de pedreiro Wellington Oliveira, de 27 anos, no dia 8 de março, quando ele foi atingido por um abrigo de ônibus. No dia 10 do mesmo mês, a administração iniciou a retirada de quatro estruturas. O trabalho é feito pela Defesa Civil e pelas secretarias de Infraestrutura, Desenvolvimento Urbano e de Mobilidade e Trânsito.
A reportagem percorreu na tarde desta segunda-feira (10), quando completou um mês do início da força-tarefa, ao menos sete localidades onde as estruturas foram removidas e constatou que nenhum tipo de abrigo provisório foi instalado. Uma moradora foi vista esperando ao menos 20 minutos sob chuva, enquanto outros se viravam com o uso de guarda-chuvas.
A técnica de enfermagem Nayara Oliveira, de 28 anos, conta que precisa utilizar ônibus todos os dias para ir à faculdade de Biomedicina, localizada no Jardim Santo Antônio, em Goiânia. Depois que o abrigo de concreto foi removido na Avenida das Nações, no Setor Canadá, a rotina é de sol e chuva enquanto aguarda o transporte coletivo. “Tiraram todos e não falaram mais nada”, diz.
No final da tarde desta segunda, ela explica que foi até o ponto por volta das 17h, mas o ônibus não passou no horário previsto. Como mora ao lado e a chuva era constante, retornou para casa até ver o outro transporte, já que acompanha o horário por meio de aplicativo. No entanto, ainda teve de ficar por volta de 20 minutos aguardando embaixo de chuva. “É assim todo dia, na chuva e no sol. Mas no sol ainda tem uma árvore para se esconder”, relata ela, que explica estar sem guarda-chuva, pois o perdeu em algum local e ainda não obteve outro.
Comerciante na região, Tiago Morais, de 31 anos, explica que por volta de 7h o ponto, que se encontra em frente à ferragista dele, fica lotado de usuários em um pequeno local. Ele conta que há muitas reclamações dos moradores pela falta de abrigo, mas cita certo alívio pela retirada da estrutura, pois a mesma estava torta. “Ficava vendo que poderia causar acidente”, diz.
Na Praça do Limoeiro, localizada na Avenida Central, no Setor Nova Cidade, a reclamação é de Lucineide Cunha, de 53 anos. Moradora do Setor Independência Mansões, a mulher trabalha no Vila Brasília como auxiliar de serviços gerais. Por conta da escala, necessita se deslocar com o transporte coletivo um dia sim e outro não. Mas nos dias em que precisa, anda com um guarda-chuva na bolsa para os imprevistos climáticos.
Ela conta que há cerca de dois meses um carro colidiu no abrigo de concreto, que ficou com o ferro exposto e com a estrutura comprometida. Segundo Lucineide, a remoção do ponto foi melhor “porque é mais seguro. Mas agora a gente precisa de uma cobertura”. A moradora também reclama sobre o barro que se forma no local onde era o ponto. Sem cimento na pista, a parte externa da praça, onde se encontra uma pequena pista de caminhada, ficou com a terra exposta, o que tem provocado lama nos dias chuvosos.
RELATÓRIO
Um relatório da Defesa Civil de Aparecida de Goiânia, do dia 24 de março, aponta os 22 abrigos de concreto armado que foram removidos no município. Do total de estruturas retiradas, duas são de linhas de ônibus desativadas, sendo uma na Rua dos Juritis, no Setor Morada dos Pássaros, e outra na Rua dos Paulistas, na Vila Mariana. O restante são de linhas ativas, mas o relatório não especifica se há outros pontos desativados.
O órgão aponta que a vistoria tem sido feita diariamente pelos técnicos e, ainda, mediante solicitação dos usuários do transporte coletivo. Diz ainda que, com a remoção, “as paradas de ônibus necessitam de novos abrigos, que ofereçam segurança”. Todas as estruturas removidas apresentavam “riscos de desabamento, portanto, fragilizados, vulneráveis ao risco de queda iminente.”
A Defesa Civil recomenda que todos os abrigos de concreto armado sejam substituídos. Isso porque, “o peso elevado da estrutura, a deterioração devido às intempéries da ação do tempo, ou seja, chuva, calor intenso”, além de acidentes com veículos e outros fatores que afetam a estrutura de concreto, apresentam riscos à população e “a depender do dano podem gerar outro acidente”.
O documento da Defesa Civil foi encaminhado à Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC), RedeMob Consórcio, e outros órgãos da administração municipal.
No impasse de quem é a responsabilidade pelos abrigos de ônibus, a Prefeitura de Aparecida não respondeu se há previsão de quando serão instalados novos pontos ou, mesmo, quem ficará responsável. Procurada a respeito dos mesmos questionamentos, a CMTC não retornou até o fechamento desta edição.
MORTE AINDA É INVESTIGADA
A Polícia Civil do Estado de Goiás (PC-GO) segue investigando de quem é a responsabilidade pela morte do ajudante de pedreiro Wellington Oliveira, de 27 anos, ocorrida no dia 8 de março, na Avenida Central, no Residencial Anhembi, em Aparecida de Goiânia.
Conforme já noticiado pelo DAQUI, na ocasião, o jovem foi atingido por um abrigo de ônibus de concreto ao se apoiar na parte superior da estrutura.
O ponto estava desativado, tinha partes das ferragens expostas e estava bambo.
Laudo da Polícia Científica aponta que, desde 2021, parte da estrutura estava condenada. A Defesa Civil do município já havia denunciado a precariedade das estruturas e encaminhado relatório a 11 órgãos ligados ao transporte coletivo da região metropolitana de Goiânia.
À época do acidente, a Prefeitura de Aparecida e a Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC) fizeram jogo de empurra-empurra sobre a responsabilidade dos abrigos de ônibus. A CMTC destacou que a Deliberação nº 084, de 2018, da Câmara Deliberativa de Transportes Coletivos (CDTC), determina que municípios integrantes da Rede Metropolitana de Transportes Coletivos (RMTC) são responsáveis pela manutenção, realocação ou instalação de abrigos. No dia 10, quando teve início a força-tarefa para retirada das estruturas precárias, a administração municipal disse que tem buscado uma “solução compartilhada para resolver o impasse dos pontos de ônibus”, em referência à CMTC e à RedeMob Consórcio.