ELDER DIAS
Com nova queda brusca nesta quarta-feira (5), a vazão do Rio Meia Ponte avançou mais um ponto na escala progressiva de preocupação com o abastecimento de água da Grande Goiânia. Nas medições diárias – realizadas às 7 horas e às 17 horas –, a cota de vazão caiu para 7.838,6 litros por segundo (L/s) e fez a média móvel de sete dias recuar para 8.437,8 L/s. A aferição é realizada no ponto de captação de água do manancial, no Bairro São Domingos, região noroeste da capital.
É pela média móvel de sete dias que se marca o chamado nível de criticidade da vazão, que, com os novos números, passou de “atenção” (quando cai da marca de 12.000 L/s) para “alerta” (quando fica abaixo de 9.000 L/s). Para se ter ideia da descida abrupta nos índices, a vazão do dia anterior, a terça-feira (4), havia sido de 8.236,81 L/s, com a média móvel, já em trajetória acentuada de queda, ficando em 9.099,3 L/s.
Em 2023, a vazão do Meia Ponte só desceu ao nível de alerta já em 1º de agosto – o que dá uma diferença de quase dois meses em relação à data atual. No 5 de junho do ano passado, o manancial não havia descido nem ao nível de atenção, que só seria alcançado 22 dias depois. A medição, naquele dia, foi de 12.513 L/s, ou 60% a mais do que o índice desta terça-feira.
Na segunda-feira (3), a titular da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Andréa Vulcanis, havia alertado para o risco de uma crise hídrica como Goiás não sofria já há alguns anos. A declaração foi dada durante sua participação no programa Jackson Abrão Entrevista, iniciativa do jornal. Na ocasião, a secretária chegou a dizer que, apesar dos índices preocupantes de vazão, não acreditava no risco de racionamento.
Nada muda na prática
Mesmo apreensivo com o alcance do nível de alerta em um momento bastante precoce em relação aos últimos anos, o secretário-executivo do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Meia Ponte (CBH Meia Ponte), Fábio Camargo Ferreira, disse que ainda não muda nada na prática, em relação ao que já é estabelecido para o nível anterior, de atenção. “O que temos é, claro, um aumento da lente para a questão. Mas as recomendações são as mesmas para os dois níveis (atenção e alerta)”, diz.
Camargo se refere à Deliberação nº 21/2022 do CBH Meia Ponte, que define as diretrizes para o enfrentamento do risco de escassez hídrica na bacia hidrográfica que abastece Goiânia e grande parte das cidades vizinhas. Nela medidas mais duras são tomadas a partir da entrada no nível crítico 1, o próximo após o nível de alerta. Quando a indicação é de atenção ou alerta, o documento aponta para campanhas sobre uso racional da água; divulgação da situação hídrica da bacia à sociedade e aos usuários de água (especialmente produtores rurais e indústrias), por meios de comunicação e mídias sociais; e reuniões articulada com as prefeituras, associações de produtores rurais e outras entidades de interesse, além dos usuários; campanhas de fiscalização; orientação aos usuários de água.
O secretário do CBH Meia Ponte esclarece que o conteúdo da deliberação, publicada em 2022, foi resultado de anos de estudos e que está ali “cada passo de cada ação que deve ser feita” para minimizar os transtornos durante a ocorrência de crises hídricas. “É o planejamento que temos para a bacia, por parte do comitê. A cada aumento do nível de criticidade, a partir de agora, será preciso tomar medidas mais enérgicas”, explica Fábio, que presidia o CBH Meia Ponte até o início deste ano.