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Venda da soja vira dilema para o produtor goiano

Diomício Gomes / O Popular
Colheita de Soja: até o momento, só metade da safra do produto foi comercializada

Os produtores de soja vivem um dilema: vender logo esta safra que acaba de ser colhida ou esperar uma reação dos preços, que tiveram forte queda nos últimos meses. O País está colhendo uma produção recorde do grão, mas a comercialização segue em ritmo lento por causa da baixa na cotação da commodity e os armazéns estão lotados de produtos.

Outro problema é a proximidade da colheita do milho safrinha, que também está com preço em queda e pode não encontrar espaço para armazenagem, se a venda da soja não for acelerada. Com o preço baixo e os custos altos, os produtores temem prejuízo.

A estimativa do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, divulgado pelo IBGE, é de que a safra de soja, colhida entre janeiro e abril, ultrapasse as 150 milhões de toneladas no País, sendo 15,2 milhões em Goiás. Deste total nacional, mais de 90 milhões de toneladas devem ser exportadas, principalmente para a China.

Mas, até agora, pouco mais de 35 milhões de toneladas já foram embarcadas. “Temos menos de quatro meses para exportar esta diferença de mais de 55 milhões de toneladas”, destaca o coordenador institucional do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (IFAG), Leonardo Machado.

Segundo ele, até o momento, só metade da safra de soja já foi comercializada. O restante ainda está nos armazéns. “Neste período, o habitual é que cerca de 70% já estivessem comercializados”, conta. O motivo para atraso são os baixos preços do grão.

A saca de 60 quilos de soja, que em maio do ano passado era vendida por até R$ 175, hoje já custa menos de R$ 120. O coordenador do IFAG lembra que o prêmio de exportação (quanto a soja está mais cara ou mais barata no mercado internacional) está pagando menos pelo grão brasileiro por conta da grande oferta nos portos brasileiros.

Ele explica que houve um aumento da área plantada nesta safra, estimulado pelos bons preços e boa rentabilidade registrados nos anos anteriores. Mas a maior oferta encontrou condições desfavoráveis de mercado, como a alta de outras safras pelo mundo, que afetou os prêmios. “O produtor tem negociado uma quantidade menor e tentado segurar um pouco o produto para tentar conseguir preços melhores”, explica Machado.

Até mesmo a troca de parte da produção por insumos, que geralmente ocorre entre os meses de agosto e setembro, foi menor para esta safra. “Com os preços em alta no ano passado, muita gente preferiu esperar e segurou o produto para vender neste ano, na expectativa de valores mais altos, mas houve a queda”, completa.

Para o consultor Rafael Ferreira, sócio do Grupo Fictor, especializado em gestão empresarial, com atuação no agronegócio, ainda existe a possibilidade do preço cair ainda mais com a proximidade da colheita da safrinha. “No início da safra, a saca de soja era vendida por até R$ 150. Agora, em Rio Verde e Jataí, já se consegue comprar até por R$ 117”, alerta.

Ele lembra que as trades começam a acelerar a exportação no meio do ano. Com isso, a logística também fica mais cara. “No início de abril, o frete até o Porto de Santos custava cerca de R$ 260 por tonelada. Agora, já está em R$ 310”, destaca.

Armazenagem

Outra preocupação, segundo Ferreira, é com o custo de armazenagem, que está em cerca de R$ 1 por saca, a cada 30 dias. No mesmo período do ano passado, quando havia mais espaço para armazenar, este custo oscilava entre R$ 0,40 e R$ 0,50 por saca. “Crescemos muito mais na abertura de áreas para a produção do que em silos para armazenamento. Se tivéssemos mais armazéns, com certeza o prejuízo seria menor”, prevê, lembrando que em países como os Estado Unidos é muito incomum ver fazendas sem silos. “Já no Brasil, só 20% das fazendas têm armazém”, ressalta.

Goiás tem uma capacidade instalada de armazenagem de cerca de 15,3 milhões de toneladas de grãos. Mas, de acordo com o consultor técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja-GO), Cristiano Palavro, da Pátria Agronegócios, este volume ainda equivale a apenas 70% da produção goiana.

Segundo ele, a capacidade de armazenagem do Estado até aumentou nos últimos anos, mas a produção cresceu mais e o déficit persiste. “Este problema não costumava ser tão grande porque são duas safras e o fluxo de exportação sempre foi ágil”, lembra Palavro.

Ele confirma que o ritmo de vendas foi lento por conta do histórico de preços nas safras passadas, que foram muito bons. “Hoje, a situação é desconfortável porque o produtor assumiu muitos custos altos com insumos, maquinário, arrendamento de terras e crédito mais caro, mas a receita não acompanhou”, diz Palavro. Segundo ele, até houve uma pequena recuperação dos preços recentemente, mas que foi muito pequena frente à queda acumulada nos últimos meses.

Com o fluxo de exportação mais lento este ano, a estimativa é que muita soja ainda deve ficar para ser exportada no segundo semestre, junto com a safrinha de milho. “Este ano, teremos os dois produtos sendo embarcados nos portos numa mesma janela. Isso deve gerar um fluxo muito grande e até uma sobrecarga. Será preciso se adaptar”, prevê Palavro.

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