O vereador Kleybe Morais (MDB) ameaçou e fez ataques contra o jornalista da CBN Goiânia José Bonfim durante a sessão desta quarta-feira (5), na Câmara de Goiânia. A agressão verbal começou quando o parlamentar pediu espaço para se pronunciar durante a sessão e criticou, sem citar nome, um jornalista que, na visão dele, vai à Casa para fazer “caricatura e fofoquinha” de vereadores.
“Não vou aceitar bandido na imprensa vindo pautar a Câmara, pautar vereadores aqui, não. Eu vou para cima e vou na goela. Já fiz uma vez e vou fazer de novo. E para quem sabe ler, um pingo é letra. Vem pra cima de mim que vai voltar do mesmo jeito. Vai voltar com o rabinho entre as pernas”, disse o vereador.
Em seguida, o parlamentar disparou ataques homofóbicos contra o repórter. “Não me importa se é hétero ou gay. Não me importa se é bicha ou homem. Mas se vem pra cá pra fazer algazarra, pra fazer furdunço, vai voltar do mesmo jeito para fora daqui”, declarou.
O vereador ainda disse que, se fosse dono da Câmara de Goiânia, “algumas pessoas da imprensa não entrariam aqui”. “Repito. Vem fazer caricatura de vereador aqui, vem fazer chacota com vereadores, que vai voltar para trás com o rabinho entre as pernas. Vou com tudo para cima. E entenda isso, sim, como uma ameaça”, afirmou.
Enquanto fazia os ataques ao jornalista, o vereador teve seu tempo de fala estendido duas vezes para que pudesse concluir a declaração. O presidente da Câmara, Romário Policarpo (Patriota), estava no comando da sessão.
Após o ataque, Kleybe foi até a área reservada à imprensa, se aproximou do repórter e disse que ele inventava mentiras. A reportagem apurou que o vereador confundiu Bonfim com um profissional de outro veículo. Kleybe foi citado pela CBN Goiânia pela última vez na semana passada, em matéria que falava sobre falta de quórum na Câmara por causa do período eleitoral.
Após o ataque, Policarpo, Anselmo Pereira (MDB) e Mauro Rubem (PT) procuraram o repórter no local e repudiaram o fato. Horas depois, Policarpo ligou para Bonfim e se desculpou. “Ele me confundiu com alguém. Mesmo assim, nenhum profissional de jornalismo merece passar por isso e espero que isso não aconteça com mais ninguém. Só peço respeito e paz para que a gente possa trabalhar. Só peço respeito e paz”, disse Bonfim ao POPULAR.
Posicionamento
Em nota, o Grupo Jaime Câmara repudiou com veemência a intimidação feita contra Bonfim. “Numa sociedade verdadeiramente democrática, é dever social do jornalismo acompanhar os atos das instituições e homens públicos. Qualquer tentativa de constranger esse trabalho, ainda mais com ameaça de violência física, indica tendência ao autoritarismo, diante da qual não é aceitável se omitir. Pela exata noção dessa responsabilidade, seguiremos cumprindo nosso papel, com ética e independência”, diz.
O Sindicato dos Jornalistas de Goiás (SindJor) publicou nota de repúdio. “Uma pessoa em posição pública deve saber aceitar críticas e respondê-las de forma democrática ou acionar a justiça, caso se sinta pessoalmente ofendido”, diz o texto. A entidade afirmou ainda que a ameaça é inaceitável e informou que tomará medidas judiciais necessárias para garantir o livre exercício do jornalismo e da integridade física dos jornalistas.
Também por nota, a Câmara de Goiânia disse que a Mesa Diretora determinou que o Conselho de Ética instaure procedimento disciplinar para apurar o teor do pronunciamento e da conduta de Kleybe. A medida pode resultar de repreensão pública a cassação de mandato.
“A Câmara Municipal de Goiânia é defensora da liberdade de imprensa e do jornalismo profissional. O Poder Legislativo da capital mantém relacionamento institucional de elevado nível com os veículos de comunicação, tem apreço por seus profissionais e é parceira da imprensa na defesa da transparência, da liberdade de expressão com responsabilidade, dos direitos individuais e coletivos e da cidadania”, informou.
Partido
Presidente do MDB em Goiânia, o vereador Henrique Alves disse que não estava no plenário no momento dos ataques e afirmou que conversará com Kleybe antes de tomar decisão sobre o assunto. “O MDB tem histórico de respeito à democracia e à imprensa. Não há conivência do partido em relação às ameaças proferidas hoje”, afirmou.
Em nota, o diretório estadual do MDB prestou solidariedade aos jornalistas atacados. “Nosso partido, cujos pilares fundamentam-se na democracia e no profundo respeito às liberdades individuais e coletivas, repudia toda e qualquer forma de censura e ameaça a uma categoria formada por profissionais cujo papel tornou-se ainda mais relevante no cenário político atual”, afirmou.
O texto diz ainda que o partido espera que o vereador emedebista, “detentor de cargo público que lhe foi conferido em votação popular”, reveja seu posicionamento o mais rápido possível.
Parlamentar
Kleybe está em seu segundo mandato como vereador de Goiânia. No início deste ano, ele precisou doar 100 cestas básicas de R$ 100 para a Patrulha Maria da Penha da Polícia Militar de Goiás. A medida foi resultado de acordo e serviu como reparação a acusações feitas contra o então titular do Escritório de Prioridades Estratégicas da Prefeitura de Goiânia, Arthur Bernardes.
O processo foi iniciado após Kleybe acusar Arthur de ter ameaçado sua família, seu cargo na Câmara, seu posto de servidor público municipal e de supostamente bloquear seu acesso à prefeitura. A reportagem entrou em contato com o vereador, mas não houve retorno até a publicação.