GABRIELLA BRAGA
Um jovem de 22 anos, suspeito de envolvimento na chacina ocorrida em Itapaci, a cerca de 220 quilômetros de Goiânia, era vizinho da casa onde cinco pessoas foram mortas e conhecido da família. Ele teria ido à residência no mesmo dia, e chegou a ser ouvido pela Polícia Civil do Estado de Goiás (PC-GO) no dia seguinte ao crime, mas negou participação. Três dias após a chacina, ele foi morto durante ação da Polícia Militar do Estado de Goiás (PM-GO).
A ação policial ocorreu no sábado (26) após uma denúncia anônima apontar que um dos suspeitos estaria em fuga de Itapaci. Ele teria contado com a ajuda de um segundo rapaz, de 20 anos, que seria colega de facção. O ajudante teria partido em um VW Gol cinza de Rubiataba até Itapaci, passando por Nova Glória. Os dois teriam sido baleados ao reagirem à abordagem, em uma estrada próxima à GO-154.
De acordo com o delegado Marcus Cardoso, da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), o jovem era investigado por envolvimento no crime, mas ainda não havia confirmação. Ele também não era um dos executantes. O segundo envolvido, que estaria ajudando na fuga, não teria participado da chacina. Ainda conforme o investigador, o rapaz morava a cerca de 200 metros da casa onde ocorreram os homicídios.
Uma das linhas de investigação é que a chacina tenha como motivação o tráfico de drogas e briga de facções. O estopim teria sido uma briga entre Marco Aurélio Vieira Gomes, de 22 anos, e o amigo E.N.P.V, de 18, junto a supostos envolvidos no tráfico de drogas local. A desavença teria ocorrido ainda no início deste mês, durante uma festa no município.
A informação foi repassada à polícia pelo próprio rapaz de 18 anos, que não estava na residência no momento do crime. Dentre os dois alvos principais, apenas Marco Aurélio foi morto. No depoimento, ele relatou que, no mesmo dia da briga, ambos foram ameaçados de morte. O jovem também informou os possíveis envolvidos na chacina.
Cardoso aponta ainda que pode haver outras motivações. “Só uma briga não justifica matar tantas pessoas”, aponta. A investigação segue e, conforme o delegado, novos detalhes serão repassados apenas após novas diligências, que devem ser feitas ainda nesta semana.
Além de Marco Aurélio, cujo corpo foi localizado apenas no sábado (26), três dias após o crime, foram mortos a mãe do jovem de 18 anos, Cleide Neres Portes, de 35, e o companheiro dela, Elionai Luiz Valentim, de 40. Iasmin Vitória Alves dos Santos, de 14 anos, chegou a ser socorrida, mas não resistiu. Jean de Jesus dos Santos, de 28, era companheiro da filha de Cleide, G.P.V, de 14, e também foi morto. Já a adolescente ficou ferida e foi levada ao hospital.
Uma parente próxima de Cleide, que não será identificada por questões de segurança, conta que a familiar se mudou para uma residência localizada no Jardim Tropical I no início da semana passada, poucos dias antes do crime, ocorrido na quarta-feira (23). Cleide teria contado a ela que uma motocicleta preta estava rondando a antiga casa da família e, diante do receio, se mudaram para o local onde ocorreu o crime. A suspeita é que o jovem de 22 anos, morto pelos militares, estaria atuando como informante.
A mulher aponta ainda que é mentira a alegação de que o filho de Cleide tinha envolvimento com tráfico de drogas. O jovem suspeito morto na ação policial teria sido, inclusive, seu vizinho durante algum tempo. “Conheci ele quando ele tinha uns cinco anos. Morei muito tempo (como vizinha dele). Ele morava próximo da casa dela (Cleide). Era só descer a rua que chegava lá”, conta.
Conforme a parente próxima, a família estava “no local errado e na hora errada”. Ela aponta ainda que pedia para que os familiares se afastassem de Marco Aurélio, diante do histórico criminal dele. O rapaz havia recebido alvará de soltura em maio, sem uso de tornozeleira, e também já teria passagens na polícia por tráfico de drogas. “(Meus familiares) morreram só porque estavam no local.”
Ela informa ainda que, durante o velório ocorrido na quinta-feira (24), um dia após o crime, familiares perceberam a presença de uma motocicleta preta rondando o local. E acredita que seria o mesmo veículo utilizado durante a ronda na antiga casa de Cleide. Agora, a família teme a situação e tenta voltar à normalidade. “Ficamos com medo porque é gente da pesada. (Estamos) pelejando para ver se vivemos de novo, mas está difícil”, pontua. Para a familiar, o único consolo é a filha de Cleide ter se salvado.
Salva pela mãe
G.P.V, de 14 anos, teria sido salva pela própria mãe, que entrou em sua frente para evitar que ela fosse baleada. De acordo com a parente, Cleide teria levado 15 tiros. A adolescente ferida foi levada ao Hospital Estadual do Centro-Norte Goiano (HCN), em Uruaçu. Ela está grávida e não corre risco de vida. Era companheira de Jean, que é natural do estado do Maranhão.
Conforme as investigações, a chacina teria ocorrido após dois homens encapuzados invadirem a residência e atirarem contra todos. Marco Aurélio conseguiu fugir do local, mas o corpo foi localizado no sábado (26), em estado avançado de decomposição, a cerca de 300 metros. A suspeita é que ele tenha morrido no mesmo dia do crime, logo após a fuga.