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Volta às aulas na rede estadual em Goiás tem ansiedade, medo e entusiasmo

Fábio Lima/O Popular
Volta às aulas no Colégio Dom Abel, em Goiânia: maior desafio, diz Seduc, é manter cumprimento de protocolo

O retorno às aulas presenciais nesta segunda-feira (2) para alunos de 1.049 escolas da rede estadual de ensino de Goiás foi marcado por entusiasmo e saudade, mas também por medo de contaminação, já que os alunos não foram imunizados e nem todos os servidores receberam o reforço da vacina contra a Covid-19.

A proporção permitida de estudantes por sala era de até 50% e a expectativa da Secretaria de Estado da Educação (Seduc) em torno de 10%, mas o resultado superou o esperado, com presença variando entre 20% e 50%, conforme a titular da pasta, Fátima Gavioli.

A secretária considerou o resultado “muito positivo”. “O que mais chamou a atenção foram os pais pedirem para olhar se estava tudo certo. Isso foi bacana”, afirmou.

Para o retorno, as instituições de ensino devem seguir as medidas de prevenção contra a Covid-19, como uso de álcool em gel, máscaras e o distanciamento social, de no mínimo um metro de raio entre os alunos e de dois metros entre o professor e o estudante nas salas de aula.

O modelo de ensino adotado no momento é híbrido, com revezamento de turmas, alunos e períodos. Apenas um grupo de 83 escolas foi autorizado a voltar com 100% dos estudantes em modo presencial, isto porque as unidades possuem capacidade suficiente para manter distanciamento no ambiente escolar.

A secretária explica que as famílias que optarem não retornar às aulas nas escolas deverão continuar em modo on-line, mas as avaliações dos alunos serão de forma presencial. Em caso de notas baixas nestas provas, será necessária uma reunião entre escolas e famílias.

A determinação da Seduc, explica Fátima Gavioli, é de que as turmas de 5º ano, 9º ano e 3ª série do ensino médio retornem 100% ao presencial, ainda que em dias e horários alternados. Também há prioridade para os alunos que não possuem conectividade e também os que estão cadastrados no Programa Bolsa Família. Para as demais turmas, as escolas irão se adaptar conforme a quantidade de alunos.

No Centro de Educação Período Integral (Cepi) Dom Abel, localizado no Setor Universitário, em Goiânia, 326 alunos estão matriculados do 6º ao 9º ano e a divisão foi feita por períodos (matutino e vespertino). Diretor da unidade, Wanderson Barbosa de Souza explica que apenas os alunos do 9º ano serão atendidos em período integral.

No período da manhã, segundo o educador, 112 alunos compareceram e para o período da tarde eram esperados aproximadamente cem estudantes. Wanderson contou que muitos pais estão inseguros devido a Covid-19. “Hoje é o primeiro dia, nunca passamos por isso, será um aprendizado para todos nós. Estamos pedindo colaboração, calma, paciência e fazendo acolhimento de pais, alunos, professores e da comunidade escolar”, acrescentou.

Marlos Pedrosa, que ministra aulas de artes no Cepi Dom Abel, diz ter como maior sentimento o de ansiedade. Ele começou a dar aulas na escola durante a pandemia e não conhecia os alunos pessoalmente.

Nesta segunda-feira (2), diz que se surpreendeu com o comportamento dos adolescentes, respeitaram a distância e os protocolos necessários. Emocionado, ele conta que mal conseguiu dormir à noite, tamanha expectativa de retorno a uma sala de aula. Ele se vacinou por faixa etária e a segunda dose está agendada para 20 de setembro.

“Acordei 3h da manhã e não consegui dormir mais. Estava muito ansioso para esta volta e eu senti nos alunos essa ansiedade também. Foi muito emocionante e o sentimento é indescritível. Cada chegada de um aluno, a preocupação deles, tanta emoção. Eu me surpreendi com a tranquilidade deles, o distanciamento e a consciência”, finaliza.

Desafio

A secretária afirma que o maior desafio é a continuidade do cumprimento do protocolo de biossegurança. Fátima acrescenta que uma avaliação foi feita e há um programa de nivelamento para reduzir as diferenças de aprendizagem durante o período fora da escola. “A gente vai inserir isso dentro do programa da retomada, inclusive, com relatórios dos professores”, diz.

Fátima afirma que até o fim do mês, 53% dos professores estarão imunizados e os demais até o fim de setembro. “Há 8% que receberam a vacina de dose única.” 

 

Parte dos professores tem receio da retomada

Os professores, entretanto, ainda sentem medo de contaminação e uma parte da categoria defende que o retorno deveria acontecer pelo menos após a aplicação do reforço da vacina.

Sem se identificar, por medo de represália, uma professora de uma escola estadual em Aparecida de Goiânia diz que acha o retorno um risco. Entre os problemas ela pontua, por exemplo, que muitos alunos não levaram máscaras para troca ao longo do dia, mesmo estando em período integral.

“Eu acho que todos os alunos deveriam ter recebido máscaras descartáveis para trocar ao longo do dia. (Eles) chegam com uma e não têm outra. Vão passar o dia todo com uma máscara só. É horrível pensar isso. Uma tentativa que pode dar errado e nossa vida está em jogo”.

A docente diz que os alunos estavam com muitas saudades e ansiosos pelo retorno, mas que ela se sentiu apavorada.

“Este retorno é muito inseguro para os servidores. Sentimento é de insegurança total. Só tomamos a primeira dose. Ou seja, estamos aqui sujeitos a pegar, adoecer, então como alguns professores falaram: é um teste. Mas estamos testando a nossa vida. A gente fica com medo. Para o nosso psicológico não é fácil porque a gente não trabalha bem, não desenvolve um trabalho bom. Hoje, primeiro dia, e estou apavorada. Alunos estão com saudades, vontade de voltar e muitas vezes não têm noção do perigo. Como vamos controlar banheiro, horário de almoço? Há um espaço muito curto de tempo entre o turno que entra e outro que sai. Álcool e máscara não são suficientes”, finaliza.

Os professores que não concordam com o retorno às aulas preferem não se identificar e afirmam medo de represálias por parte da Secretaria de Educação. Um dos docentes, que trabalha na rede há 11 anos, afirma que está entre os colegas de trabalho que não sente segurança em retornar, principalmente porque não receberam a segunda dose da vacina contra a Covid-19.

“Não entendemos por que o Estado não se esforçou para antecipar a segunda dose. Os dados da pandemia ainda apontam um cenário sério em Goiás e, embora o primeiro dia tenha sido calmo, acreditamos que nos próximos dias professores e principalmente alunos devem relaxar com os cuidados, mesmo sem querer, por desatenção, por cansaço. Muitos pais foram hoje (segunda-feira, 2) à escola assinar um termo recusando enviar os filhos ao presencial, pois temem pela saúde dos jovens que sequer sabemos quando serão vacinados”, completa.

Na unidade em que trabalha, voltaram uma média de oito alunos por turma nesta segunda-feira (2). Ele diz que não houve intervalo para evitar aglomeração e que os estudantes se sentaram de maneira adequada, respeitando o espaço. Apesar disso, lamentou pelos que não possuem acesso à internet e ainda estão com receio do retorno. “O aproveitamento é inferior e isso vai aprofundar ainda mais as desigualdades. Temos famílias que não vão enviar alunos sem vacinas e que não têm condições de assistir aulas on-line. Ou seja, vão levar e buscar atividades na escola, cujo aproveitamento é ainda mais frágil”, finalizou.

A secretária Fátima Gavioli afirma que foram distribuídos escudos faciais e máscaras aos professores e os alunos receberam o segundo item de proteção contra a Covid-19. Ela não acredita que até o fim do ano o porcentual de 50% dos alunos em sala aumente. “Não vai ter retomada da noite para o dia. Ela vai ser tranquila, será progressiva e aos poucos”



“Tenho medo demais de voltar”, diz aluna

Franciele Oliveira tem 15 anos e é aluna do Colégio Estadual Villa Lobos, em Aparecida de Goiânia. Ela cursa a 1º série do ensino médio e para ela, as aulas continuam remotas.

A escola explica que, como possui mais de 1.500 alunos, o retorno aconteceu apenas para turmas de 9º ano e 3ª série do ensino médio. Ela conta que apesar de uma mudança drástica na rotina, ainda sente medo de voltar pra escola.

“As aulas on-line não têm sido fáceis para mim e para algumas colegas. Não aprendi quase nada e minhas notas abaixaram, mas eu estava fazendo todas as atividades. O que mudou foi que agora passam o dobro de tarefas de antes e fica muito pesado. Geralmente levo o dia inteiro fazendo as atividades. Gostaria de voltar, mas ainda acho muito perigoso. A pandemia não acabou e tem muitas pessoas que não tomaram a vacina, sem contar nesta nova variante. Tenho medo demais, meu pai é do grupo de risco e estamos evitando sair, aglomerações”, finaliza. 

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