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Wassily Chuc volta a ser alvo de queixas

Fábio Lima
Parede com reboco caído no chão e lixo mostram precariedade do Pronto Socorro Psiquiátrico Wassily Chuc

Em 2018, o Pronto Socorro Psiquiátrico Wassily Chuc, unidade que integra a Rede de Atenção Psicossocial de Goiânia, ganhou nova sede, no Setor Jardim América. A mudança foi justificada pela pasta como a necessidade de garantir melhor estrutura para o atendimento dos pacientes e de trabalho para os servidores. A solução, entretanto, não se mostrou eficaz. Os problemas denunciados pela população nas antigas sedes voltaram a se tornar evidentes.

Esta semana um parente de um homem jovem que foi atendido no pronto-socorro psiquiátrico encaminhou vídeos à TV Anhanguera mostrando mofos e infiltrações nas paredes. Relatos como esses não são novos. Cerca de dois anos após a transferência para o prédio, a vereadora Gabriela Rodart esteve na unidade e denunciou a precariedade no local, com vasos quebrados e banheiros entupidos. Em 2021, o deputado Gustavo Sebba (PSDB), que já presidia a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), também ficou estarrecido ao visitar o local. “Para trabalhar em uma unidade como essa, tem que amar a causa”, disse ele na época.

O Pronto Socorro Wassily Chuc é uma unidade que funciona 24h. Quando uma pessoa está em surto, seja por problemas mentais, quanto por dependência química, ali é a porta de entrada para o atendimento. Após análise da equipe médica, o paciente é encaminhado para um Centro de Atenção Psicossocial (Caps) ou, em casos mais graves, que exijam internação, é regulado para leitos conveniados com o Sistema Único de Saúde (SUS), em três hospitais psiquiátricos da capital.

Nesta terça-feira (6), uma mulher de Trindade, na região metropolitana da capital, precisou de atendimento para o marido. Sem conseguir ajuda em seu município, correu para o Wassily Chuc. “Meu marido estava tendo convulsões, mas não chegaram a atendê-lo. Ele já foi encaminhado para um Cais”, afirmou, sem querer se identificar.

A diarista Lisamara Santos há alguns dias precisou de atendimento para o irmão que tem esquizofrenia. “Ele teve um surto e não consegui controlar. Precisei ficar um tempo no pronto-socorro até surgir uma vaga. A situação lá é muito ruim, tem mofo e infiltrações. As paredes estão descascando.”

Presidente do Conselho Municipal de Saúde de Goiânia, Celidalva Bittencourt disse que pretende tratar do assunto com o titular da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Durval Pedroso, na reunião quinzenal desta quarta-feira (7). “A estrutura realmente não é das melhores e precisa mudar, mas é importante lembrar que o Wassily Chuc é apenas a porta de entrada para o atendimento”, afirmou. Para Celidalva é preciso analisar a questão do atendimento à saúde mental como um todo.

“Dentro de 15 dias o Conselho Municipal de Saúde vai realizar uma reunião extraordinária para tratar da saúde mental. Depois da pandemia da Covid-19 as pessoas ficaram mais adoecidas. É necessária uma reestruturação, melhorar as estruturas físicas não somente do Wassily Chuc, mas também dos Caps e do Ambulatório Municipal de Psiquiatria. Concursados precisam ser chamados”, afirmou Celidalva Bittencourt.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) esclareceu por meio de nota que o prédio onde funciona o Pronto Atendimento Psiquiátrico Wassily Chuc é locado, o que limitaria reformas mais amplas que seriam de responsabilidade do proprietário.

A SMS informa que, em parceria com o Ministério Público, está viabilizando uma forma legal para que o município possa fazer intervenções mais profundas na estrutura da unidade. Enquanto isso, diz que tem realizado manutenções pontuais.

“Todo o serviço necessário para a solução definitiva de infiltração no prédio, já foram executados. Foram realizados reparos no telhado com troca de telhas e impermeabilização (fotos abaixo), faltando agora somente a pintura”, afirma a pasta.

De acordo com a secretaria, as manutenções da rede elétrica, hidráulica, hidrosanitária, banheiros, entre diversos outros reparos, foram concluídas. Mas como as intervenções ainda estão em andamento, alguns serviços, como a pintura, ainda serão feitos.

Dificuldades na lida com os pacientes 

A reportagem conversou com uma profissional de saúde que atua no Pronto Socorro Wassily Chuc sob a condição de anonimato. Ela confirmou que o prédio onde está instalada a unidade realmente tem muitos problemas de infiltração que ficam mais evidentes no período chuvoso. “Mesmo que pintem, como fizeram há pouco, se der uma bolha, os pacientes começam a retirar o restante da pintura, deixando aquele aspecto ruim”, salientou. 

A servidora lembrou que o perfil do paciente da unidade é diferenciado. “Em delírio ou em surto, ele danifica colchões, entope vasos ou arranca chuveiros. Um dos maiores problemas que nós temos é a falta de colchões que são frequentemente danificados e, por uma questão burocrática, a secretaria não consegue fazer a substituição imediata. Tínhamos dois bebedouros novos, os dois foram quebrados. Para conseguir dar um mínimo de dignidade, sempre fazemos vaquinha.” Esta semana foram instaladas novas luminárias.   

Até que sigam para um hospital psiquiátrico, pacientes em surto precisam ficar no Wassily Chuc. “Nosso paciente é de difícil manejo. Colocamos plantas no pátio para humanizar o ambiente, mas todos os vasos foram danificados. Ganhamos de uma servidora um aparelho de TV que foi instalado no refeitório e não durou dois meses. Perdemos também a equipe multiprofissional que oferecia arteterapia e atividades ocupacionais e de lazer. Como todos eram comissionados, foram exonerados e a equipe não foi substituída. Uma perda muito grande para a unidade.”

Embora dentro da Rede de Atenção Psicossocial o pronto-socorro seja direcionado para o atendimento emergencial, muitas vezes, conforme a servidora, o paciente fica semanas na unidade. “Ou porque não há vaga nos hospitais conveniados com o SUS ou porque algum deles devolve o paciente sob a alegação de que ele não tem o perfil para atendimento. E a secretaria exige que ele volte para o hospital para que o estabelecimento preencha um papel explicando os motivos da recusa. É um estresse muito grande.”    

Por meio de nota, a SMS diz não proceder a denúncia de desmantelamento da equipe multidisciplinar. “Pelo contrario ela acaba de ser reforçada com a contratação de um médico responsável técnico (RT)”, informa a pasta.   

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