Uma pesquisa em colaboração entre a Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Universidade de Brasília (UnB) pretende facilitar a castração de cães e gatos machos, sem que haja necessidade de cirurgia. O procedimento é muito mais rápido e simples do que o cirúrgico e poderá, no futuro, ajudar os gestores públicos na redução da população de animais de rua, além de campanhas contra o abandono.
O projeto é desenvolvido pelo Instituto de Ciências Biológicas (IB), da UnB, e contou com uma pesquisa importante da UFG: a técnica de magnetohipertermia. O nome é complicado, mas na prática consiste na injeção de nanopartículas de óxido de ferro no testículo do animal sedado. A partir daí, podem ser adotadas duas técnicas de esterilização: por meio da aplicação de um campo magnético (magnetohipertermia) ou de uma luz de LED (fotohipertermia).
A pesquisa aponta que, no caso da magnetohipertermia, “o campo magnético externo é aplicado na região dos testículos e as nanopartículas injetadas geram calor apenas no local da aplicação”. Já na fotohipertermia, utiliza-se um LED infravermelho para que as nanopartículas transformem a luz em calor e promovam a esterilização. A pesquisa ainda mostra que nos dois procedimentos, a temperatura chega aos 45 graus, aproximadamente, e não causa queimaduras nos animais. Os processos duram em torno de 20 minutos.
Nanopartículas
A técnica de magnetohipertermia é estudada pelo professor Andris Bakuzis, do Instituto de Física da Universidade Federal de Goiás (IF/UFG), mas a pesquisa foi iniciada e já está bem avançada no tratamento de tumores, mas o estudo em conjunto começou a analisar o uso na castração. Bakuzis destaca o papel fundamental no desenvolvimento da técnica e na síntese do nanomaterial para essa aplicação.
Adris Bakuzis é coautor do artigo que mostra os resultados iniciais e ele acredita que sem a experiência prévia dos estudos da UFG, os resultados promissores não seriam apresentados tão rapidamente no periódico internacional Pharmaceutics com o título “Alternativas nanotecnológicas para a castração não cirúrgica de animais machos”. Inclusive algumas etapas do estudo foram desenvolvidas na UFG, como os estudos com animais vivos. A avaliação dos efeitos biológicos foi realizada na UnB.
A coordenação do estudo é da professora Carolina Madeira Lucci. Ela é veterinária e tutora de quatro cachorros e dois gatos, todos resgatados das ruas. Ela contou à uma publicação da universidade que o estudo partiu da sua preocupação com o aumento do número de animais abandonados. Ela disse que entende que a castração cirúrgica é eficiente, mas que não é rápida, nem de fácil acesso.
Estudo
Bakuzis destaca que foi convidado por Carolina, que viu na técnica de magnetohipertermia uma possibilidade de fazer um projeto mais acessível de castração. “Ela me explicou a ideia dela depois de uma apresentação do meu trabalho. Ela me convenceu sobre a importância do que este resultado significaria e estamos muito satisfeitos com os resultados até agora.” Os animais ficaram estéreis em definitivo com apenas uma sessão de tratamento, sem efeitos colaterais.
O projeto foi iniciado em 2015 e trabalha apenas com animais machos pela facilidade de acesso às gônadas, que são os testículos. O estudo aponta que, além de estarem localizados fora do abdômen, possuem uma sensibilidade maior ao calor, já que temperaturas elevadas causam danos no processo de produção dos espermatozoides. Foram feitos testes com ratos e agora já foram iniciados os estudos com gatos. Depois disso, serão feitas análises em cães.
A pesquisa não é feita em fêmeas porque os ovários ficam dentro da cavidade abdominal e não apresentam a mesma sensibilidade térmica. A pesquisadora Carolina Lucci também entende que basear a pesquisa no ciclo reprodutivo dos machos é mais assertivo porque cada fêmea tem um cio, emprenha, passa o tempo em gestação até ter os filhotes. Mas no caso do macho ele pode emprenhar uma fêmea a cada dia. Ela ainda diz que, em média, um casal de gatos pode gerar mais de 49 mil descendentes ao longo de dez anos.
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