A alimentação saudável é um dos pilares da boa saúde e, em decorrência disso, é também uma das maiores preocupações das mães – os hábitos alimentares da primeira infância são determinantes para o bom crescimento e desenvolvimento intelectual da criança. Contudo, durante essa fase muitos pais enfrentam problemas que vão desde a dificuldade de aceitação de determinados alimentos do cardápio até o desafio de fazer o filho se alimentar adequadamente.
Ainda que clássicas, essas situações têm se agravado devido aos hábitos da vida moderna: com correria do dia-a-dia e a falta opções saudáveis na dieta, a desnutrição é uma preocupação cada vez mais presente nos lares e nos consultórios médicos.
Dados do Ministério da Saúde apresentados durante o 3° Congresso Internacional Sabará de Saúde Infantil (SP), realizado em setembro, demonstram que apenas 60% das crianças brasileiras na fase inicial de alimentação sólida (entre 6 meses e 2 anos) ingerem alimentos saudáveis como legumes e verduras com frequência.
Por outro lado, mais de 40% delas já consome alimentos industrializados ricos em açúcares e conservantes. Este cenário liga o alerta para a desnutrição pois revela hábitos preocupantes quanto a educação alimentar infantil. Contudo, identificar quais sinais podem indicar uma carência nutricional pode não ser uma tarefa fácil para os pais – o distúrbio pode apresentar sinais pouco perceptíveis ou estar ligado a causas secundárias.
Identificando o problema
Certamente, a perda ou dificuldade no ganho de peso, no crescimento e a má aceitação do alimento são as situações que mais preocupam as mães. Contudo, por mais que esses sejam os principais indicadores de um problema nutricional é preciso observar outros sinais que podem sugerir um problema dessa ordem.
Ainda que a criança não apresente problemas relacionados ao apetite é preciso observar a qualidade da alimentação, pois muitas vezes mesmo uma criança que se alimenta normalmente pode apresentar algum indício de falta de nutrientes.
De acordo com nutricionista Joana Carollo, da Nova Nutrii, isso ocorre porque o problema não é decorrente exclusivamente da falta de alimentos “Na verdade a desnutrição é caracterizada como um desequilíbrio na oferta de nutrientes, seja pela ingesta insuficiente ou inadequada de alimentos, seja pela dificuldade de absorção do organismo. ”.
Justamente por isso, é importante observar outros sinais: mesmo que a criança esteja dentro do peso considerado normal, o problema pode fazer que ela apresente um comportamento fora do habitual, geralmente demonstrando fraqueza, falta de apetite, apatia, pele e cabelos ressecados e, sobretudo, problemas de saúde recorrentes.
Naturalmente, as crianças já são mais sujeitas a gripes e infecções, porém, quando isso acontece repetidamente pode ser um alerta para a desnutrição: “A carência de vitaminas, sais minerais e outros micronutrientes pode prejudicar a resposta imunológica e deixar a criança mais vulnerável à essas situações, adoecendo com mais frequência. ” – Explica a nutricionista.
Nutrientes essenciais na infância
Ainda que a desnutrição esteja diretamente ligada a oferta calórico-proteica, alguns micronutrientes são essenciais durante a infância e tem sua disponibilidade prejudicada pelo distúrbio. A principal consequência desse problema é o atraso do desenvolvimento intelectual e físico da criança.
Esses micronutrientes merecem atenção especial na dieta e devem compor, em conjunto com outros nutrientes, um cardápio equilibrado afim de garantir o crescimento saudável durante essa etapa da vida.
Ferro: Essencial para o desenvolvimento físico e psicomotor durante a infância, sua carência pode levar a anemia ferropriva, que afeta tanto o crescimento, quanto o aprendizado. A falta deste mineral diminui a resistência do organismo e também pode afetar o comportamento da criança, levando a fraqueza, falta de memória, irritabilidade e indisposição. Para reforçar sua oferta é importante incluir no cardápio alimentos ricos em ferro como a beterraba, o fígado de boi, feijão e couve.
Zinco: Por estar relacionado ao metabolismo hormonal e a diversas reações enzimáticas do organismo, sua carência pode limitar o crescimento da criança, afetar o paladar, e afetar seu desenvolvimento cognitivo. Da mesma forma, seu baixo aporte pode enfraquecer a resposta imunológica e causar episódios de diarreia. Alimentos como o agrião, a escarola, o farelo de trigo, a aveia e sementes de girassol são ricos em zinco.
Cálcio: Este mineral é essencial na formação do conjunto esquelético, crescimento e fortalecimento de ossos e dentes. Sua carência pode prejudicar o desenvolvimento da estatura, levando a complicações como raquitismo e má formação óssea. As principais fontes desse mineral são produtos lácteos e seus derivados, contudo também existem opções vegetais como o couve, brócolis, amêndoas e castanhas. Para melhorar sua oferta, a nutricionista dá outra dica “A vitamina D melhora a absorção do cálcio, portanto é importante consumir alimentos ricos nesse nutriente como peixe e ovos. ” - além de tomar sol moderadamente, que é principal fonte natural dessa vitamina.
Vitamina A: Além de fundamental para a saúde ocular, a falta desse mineral pode igualmente prejudicar o crescimento da criança e afetar significativamente seu sistema imunológico. A nutricionista Joanna reforça sua importância: “Esse nutriente é classificado como essencial, ou seja, não é fabricado pelo organismo e deve ser adquirido através da alimentação. ” Boas fontes de vitamina A são vegetais folhosos de coloração verde escura, a gema do ovo e frutas como a manga e o mamão.
Desnutrição x vida moderna
Em vista das mudanças comportamentais e dos padrões alimentares das últimas décadas, a desnutrição não é mais um problema exclusivo da escassez de alimentos. Atualmente, casos de desnutrição acontecem mesmo nos lares cuja a oferta de alimentos é abundante. O alto consumo de industrializados, refeições prontas e fast foods contribuiu para um novo perfil deste problema: crianças que se alimentam normalmente, porém de forma inadequada.
É cada vez mais comum que crianças tenham contato, logo na primeira infância, com produtos industrializados na hora do lanche ou até mesmo nas refeições principais. O resultado disso: crianças acima do peso, porém com maior probabilidade de apresentar algum déficit nutricional.
Dados do Ministério da Saúde estimam que, atualmente, 20% da população infantil está acima do peso, enquanto dados do IBGE (POF-2009) apontam que esta situação quadriplicou no país em duas décadas. Este é mais uma razão pela qual a desnutrição não deve estar associada unicamente ao baixo peso, mas sim, observada como um quadro multifatorial.
Educar para tratar e prevenir
Diante disso, como enfrentar o problema? É indiscutível que a orientação médica é fundamental – somente um profissional poderá diagnosticar e indicar o melhor tratamento para o distúrbio. Tanto nos casos clássicos de desnutrição, originados pela má aceitação de alimentos ou falta de qualidade da dieta, quanto nos secundários, relacionados à assimilação inadequada dos nutrientes pelo organismo, é essencial que mudanças sejam feitas na dieta.
Para tal, a orientação de um médico/nutricionista é fundamental para que os hábitos alimentares sejam alterados sem prejudicar o paciente, introduzindo novos alimentos na dieta ou até mesmo, quando necessário, fazendo uso da suplementação. Contudo, é importante ressaltar que algumas medidas podem – e devem – ser tomadas pelos pais afim de prevenir e combater este problema:
- Estabeleça horários para a alimentação, evitando que a criança pule refeições, coma fora de hora ou fique longos períodos sem se alimentar. Combater essas situações é essencial para o equilíbrio da dieta e para mudança de hábitos;
- Faça variações no cardápio afim de introduzir alimentos saudáveis de uma forma mais convidativa e palatável. Da mesma forma, procure saber qual verduras, frutas e legumes mais agradam seu filho e, com base nisso, construa um cardápio diversificado;
- Evite a introdução precoce de alimentos industrializados, ricos em açúcares e conservantes na dieta do seu filho. De acordo com a nutricionista “além de dificultar a aceitação de alimentos naturais e verdadeiramente saudáveis, pode afetar a própria consciência da criança a respeito dos alimentos. ”
- Da mesma forma, é importante controlar a ingestão e o acesso a esses alimentos no caso das crianças maiores. A vigilância é essencial para que esse tipo de alimento não faça parte da sua alimentação diária;
- É importante planejar o que a criança levará na lancheira. Deixá-la livre para escolher o que comer fora de casa pode fazer com que ela se alimente inadequadamente ou sequer se alimente;
- Não cair na armadilha dos produtos industrializados “fortificados e enriquecidos com vitaminas”, a alimentação natural e caseira é indiscutivelmente mais nutritiva. Estimule o consumo de frutas in natura como opções no lanche e sobremesas;
- Por fim, ao notar qualquer comportamento anormal em relação a alimentação ou crescimento do seu filho, consulte imediatamente um médico/nutricionista. Com o auxílio adequado é possível contornar a desnutrição e garantir um crescimento saudável.